sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Estranha absorção de poeiras cósmicas



"(...) penso no absurdo de escrever. De estar a escrever quando podia estar com os amigos, ir ao cinema, ir dançar que é uma coisa de que gosto... mas não, um tipo está ali e é um bocado esquizofrénico. (...) Há sempre uma parte subterrânea nas obras de arte impossível de explicar. Como no amor. Esse mistério é, talvez seja, a própria essência do acto criador. (...) Quando criamos é como se provocássemos uma espécie de loucura, quando nos fechamos sozinhos para escrever é como se nos tornássemos doentes. A nossa superfície de contacto com a realidade diminui, ali estamos encarcerados numa espécie de ovo... só que tem de haver uma parte racional em nós que ordene a desordem provocada. A escrita é um delírio organizado."

António Lobo Antunes


Já lá cantava junto ao peito, protegido pelo pullover, o livro autografado pelo sempre potencial nobel escritor. Num acto de loucura Idalécio Barbinha tinha estourado os cobres da venda das couves galegas num exemplar puído do "Cus de Judas". Estava tão radiante que se lançou na esgalha para as falésias de João d'Arens de modo a devorar esse livro na companhia das gaivotas e do mar.

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